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Quando se é obrigado a escrever entre aspas a palavra “cultura”, isso quer dizer que a cultura está realmente em mal estado. Quando a diferença entre a propaganda turística, midiática, festiva e a cultura não é mais claramente percebida, isso quer dizer que a “cultura” triunfa. Quando não se fala mais de um livro, de uma mostra, de um concerto para dizer aquilo que respectivamente são, mas somente para discutir quanto público atraíram e de que maneira, significa que o sentido dos livros, da arte e da música se dissipa em uma névoa indefinida. Isso acontece todos os dias debaixo dos nossos olhos. E às vezes – como hoje na França – é o próprio Estado quem o fomenta e administra, transformando-se em um empresário que compete em suntuosidade e inventividade com o empresário do setor privado, com um gesto de aparente devoção à cultura e uma vontade velada de manipulá-la, de utilizá-la para seus próprios fins. Em resumo, tudo parece conspirar para que seja esquecida a impecável intuição de Jacob Burkhardt, segundo a qual o Estado e a cultura são potências naturalmente inimigas e assim devem permanecer, para o bem de ambos. Para avaliar esse fenômeno, que é planetário mas assume formas diferentes em cada país (e obviamente bem diferente da francesa é a questão na Itália, onde o Estado revelou-se incapaz até mesmo de garantir a sobrevivência física da memória cultural), é preciso um olhar capaz de abraçar vastos conjuntos, de reconhecer tanto o que é a cultura quanto o que é a “cultura”. Marc Fumaroli conseguiu isso, com apaixonada verve polêmica, com sólido juízo histórico, com feliz impaciência. A sua análise se concentra na França, remontando às origens de um fenômeno que se manifestou de modo flagrante durante os anos de Mitterrand, mesmo estando já entrevisto nos anos de Malraux. Mas o discurso vai muito além e se aplica a todo o sutil e onipresente invólucro de plástico que nos envolve e tenta nos sufocar com as melhores das intenções. Esse invólucro se chama “cultura”.
O Estado cultural apareceu pela primeira vez em 1991.
Ed. Ayiné - 500 pág. - brochura
O ESTADO CULTURAL - MARC FUMAROLI
Quando se é obrigado a escrever entre aspas a palavra “cultura”, isso quer dizer que a cultura está realmente em mal estado. Quando a diferença entre a propaganda turística, midiática, festiva e a cultura não é mais claramente percebida, isso quer dizer que a “cultura” triunfa. Quando não se fala mais de um livro, de uma mostra, de um concerto para dizer aquilo que respectivamente são, mas somente para discutir quanto público atraíram e de que maneira, significa que o sentido dos livros, da arte e da música se dissipa em uma névoa indefinida. Isso acontece todos os dias debaixo dos nossos olhos. E às vezes – como hoje na França – é o próprio Estado quem o fomenta e administra, transformando-se em um empresário que compete em suntuosidade e inventividade com o empresário do setor privado, com um gesto de aparente devoção à cultura e uma vontade velada de manipulá-la, de utilizá-la para seus próprios fins. Em resumo, tudo parece conspirar para que seja esquecida a impecável intuição de Jacob Burkhardt, segundo a qual o Estado e a cultura são potências naturalmente inimigas e assim devem permanecer, para o bem de ambos. Para avaliar esse fenômeno, que é planetário mas assume formas diferentes em cada país (e obviamente bem diferente da francesa é a questão na Itália, onde o Estado revelou-se incapaz até mesmo de garantir a sobrevivência física da memória cultural), é preciso um olhar capaz de abraçar vastos conjuntos, de reconhecer tanto o que é a cultura quanto o que é a “cultura”. Marc Fumaroli conseguiu isso, com apaixonada verve polêmica, com sólido juízo histórico, com feliz impaciência. A sua análise se concentra na França, remontando às origens de um fenômeno que se manifestou de modo flagrante durante os anos de Mitterrand, mesmo estando já entrevisto nos anos de Malraux. Mas o discurso vai muito além e se aplica a todo o sutil e onipresente invólucro de plástico que nos envolve e tenta nos sufocar com as melhores das intenções. Esse invólucro se chama “cultura”.
O Estado cultural apareceu pela primeira vez em 1991.
Ed. Ayiné - 500 pág. - brochura
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