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Num momento famoso da crise de 2008, a rainha Elisabeth II, em visita à London School of Economics, perguntou aos economistas por que não haviam previsto a crise. Robert Lucas, Prêmio Nobel e sumo sacerdote das expectativas racionais, respondeu em um artigo publicado em 2009 na revista The Economist: "A crise não foi prevista porque a teoria econômica prevê que esses eventos não podem ser previstos." Os mercados são eficientes, e a crise que aconteceu não poderia ter acontecido. A matriz intelectual dessa impossibilidade repousa nos fundamentos do individualismo metodológico que sustentou certezas econômicas e políticas dos últimos quarenta anos. Aviadas nos gabinetes das universidades e das consultorias, essa coleção de crenças engalanadas com matemática de segunda categoria está apoiada em esquemas conceituais grotescos, no sentido machadiano. Em nome da despolitização e da "limpeza ideológica", a turma das expectativas racionais entregou a chamada ciência econômica às forças do pensamento mítico. A consequência dessa empreitada não foi apenas o irrealismo descuidado, mas as sucessivas e persistentes escaramuças para esconder o funcionamento concreto das economias capitalistas, um organismo em permanente transformação ao longo da história, na efetivação de suas leis de movimento. São muitas as reações ao "descolamento" da teoria dominante diante do movimento concreto das economias contemporâneas. Entre tantas, é interessante observar o desenvolvimento da econofísica", que usa as teorias da complexidade para (re)colar as estruturas e os processos econômicos na avalanche de dados acumulados pela ciência da computação. Por exemplo, no livro Decoding Complexity. Uncovering Patterns of Economic Complexity, o físico James Glattfelder escreve: "A característica dos sistemas complexos é que o todo exibe propriedades que não podem ser deduzidas das partes individuais. Em suma, a teoria da complexidade trata de investigar como o comportamento macro decorre da interação dos elementos do sistema". Ilya Prigogine e Isabelle Stengers mostram que a termodinâmica, a física das partículas e a teoria da relatividade "nos conduzem a compreender [...] um mundo onde a emergência do novo reveste um significado irreversível". No movimento histórico das economias concretas estão abrigadas a irreversibilidade e a emergência do novo nas estruturas complexas, pesadelo dos economistas que dormem e sonham com modelos reversíveis e atemporais de equilíbrio geral. Nesse contexto, este livro de Paulo Gala sobre o papel da complexidade econômica no desenvolvimento é uma contribuição valiosa para nos ajudar a compreender temas relevantes da "econofísica". Paulo arrisca uma incursão na teoria da complexidade e oferece novos roteiros para o debate das controvérsias acerca do desenvolvimento econômico dos países, os mistérios da riqueza e da pobreza das nações. Luiz Gonzaga Belluzzo
Ed. Contraponto - 144 pág. - brochura
COMPLEXIDADE ECONÔMICA: Uma Nova Perspectiva Para Entender a Antiga Questão da Riqueza das Nações - Paulo Gala
Num momento famoso da crise de 2008, a rainha Elisabeth II, em visita à London School of Economics, perguntou aos economistas por que não haviam previsto a crise. Robert Lucas, Prêmio Nobel e sumo sacerdote das expectativas racionais, respondeu em um artigo publicado em 2009 na revista The Economist: "A crise não foi prevista porque a teoria econômica prevê que esses eventos não podem ser previstos." Os mercados são eficientes, e a crise que aconteceu não poderia ter acontecido. A matriz intelectual dessa impossibilidade repousa nos fundamentos do individualismo metodológico que sustentou certezas econômicas e políticas dos últimos quarenta anos. Aviadas nos gabinetes das universidades e das consultorias, essa coleção de crenças engalanadas com matemática de segunda categoria está apoiada em esquemas conceituais grotescos, no sentido machadiano. Em nome da despolitização e da "limpeza ideológica", a turma das expectativas racionais entregou a chamada ciência econômica às forças do pensamento mítico. A consequência dessa empreitada não foi apenas o irrealismo descuidado, mas as sucessivas e persistentes escaramuças para esconder o funcionamento concreto das economias capitalistas, um organismo em permanente transformação ao longo da história, na efetivação de suas leis de movimento. São muitas as reações ao "descolamento" da teoria dominante diante do movimento concreto das economias contemporâneas. Entre tantas, é interessante observar o desenvolvimento da econofísica", que usa as teorias da complexidade para (re)colar as estruturas e os processos econômicos na avalanche de dados acumulados pela ciência da computação. Por exemplo, no livro Decoding Complexity. Uncovering Patterns of Economic Complexity, o físico James Glattfelder escreve: "A característica dos sistemas complexos é que o todo exibe propriedades que não podem ser deduzidas das partes individuais. Em suma, a teoria da complexidade trata de investigar como o comportamento macro decorre da interação dos elementos do sistema". Ilya Prigogine e Isabelle Stengers mostram que a termodinâmica, a física das partículas e a teoria da relatividade "nos conduzem a compreender [...] um mundo onde a emergência do novo reveste um significado irreversível". No movimento histórico das economias concretas estão abrigadas a irreversibilidade e a emergência do novo nas estruturas complexas, pesadelo dos economistas que dormem e sonham com modelos reversíveis e atemporais de equilíbrio geral. Nesse contexto, este livro de Paulo Gala sobre o papel da complexidade econômica no desenvolvimento é uma contribuição valiosa para nos ajudar a compreender temas relevantes da "econofísica". Paulo arrisca uma incursão na teoria da complexidade e oferece novos roteiros para o debate das controvérsias acerca do desenvolvimento econômico dos países, os mistérios da riqueza e da pobreza das nações. Luiz Gonzaga Belluzzo
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